O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou, nesta quarta-feira (25/1) que a plataforma Telegram pague, em cinco dias, uma multa de R$ 1,2 milhões pelo descumprimento de uma ordem judicial para o bloqueio do perfil do deputado federal eleito Nikolas Ferreira (PL-MG).
O ministro também disse que, ao descumprir a ordem do STF, a rede social “entende-se no direito de avaliar a legalidade e obrigatoriedade de cumprimento” da decisão. A manifestação de Moraes foi uma resposta à petição protocolada na quarta-feira pelo Telegram no processo que tramita no STF.
Para calcular a multa aplicada, a decisão demonstra que a empresa recebeu a ordem de bloqueio no dia 12 de janeiro, e mesmo com uma previsão de multa de R$ 100 mil por dia de descumprimento, segue em desacordo com a ordem da Corte. “Ressalte-se, como já relatado, que o bloqueio dos canais/perfis/contas indicados deveria ocorrer no prazo de 2 (duas) horas, sob pena de multa diária de R$ 100.000,00 (cem mil reais), com o fornecimento de seus dados cadastrais a esta SUPREMA CORTE e a integral preservação de seu conteúdo”, fundamentou o ministro em relação a multa de R$ 1,2 milhões contra a plataforma.
Decisão não fundamentada alega aplicativo
Em petição protocolada junto ao STF, o Telegram afirma que “decidiu não realizar o bloqueio” de Nikolas por entender que a decisão recebida teria uma “fundamentação genérica” e previa uma “medida desproporcional” ao determinar o bloqueio total da conta do parlamentar bolsonarista.
Os representantes do aplicativo no Brasil, que assinam o documento, dizem que os bloqueios das contas configuram “censura”, e que o aplicativo defende ser “um espaço de livre comunicação para discursos legítimos”, argumentando que o bloqueio determinado na ordem judicial configura “censura, coibindo o direito dos cidadãos brasileiros à liberdade de expressão” o Telegram decidiu cumprir a decisão apenas parcialmente.
A empresa aponta que cumpriu a decisão no que se refere às contas do apresentador Bruno Aiub, o Monark, e da influenciadora bolsonarista Paula Marisa, efetivadas na plataforma.
Na petição, o aplicativo solicita que a Justiça brasileira reconsidere a decisão sugerindo que ela se aplicasse apenas aos conteúdos efetivamente ilegais no caso de Nikolas. Para a plataforma, Alexandre de Moraes não apresentou uma justificativa para o “o bloqueio integral” do canal que, conforme ressalta, tem 277 mil inscritos — conforme checagem realizada pelo Correio às 20h30 desta quarta-feira, o canal já supera 310 mil inscritos.
Pelo canal no Telegram — o que deveria ter sido bloqueado —, Nikolas criticou a decisão de Moraes. “É isso, provavelmente em breve não terei mais o meu canal no Telegram. Eles querem sumir comigo da internet, eles estão conseguindo por conta da decisão de apenas uma pessoa”, disse o parlamentar eleito em uma mensagem de áudio distribuída aos apoiadores.
Para o deputado, a decisão era uma violação da liberdade e uma censura. “A liberdade não pode ser ameaçada dessa forma, a censura não pode tomar essa proporção”, conclui o parlamentar na mensagem.
Histórico complicado com a Justiça
Em disputa com a Justiça brasileira há bastante tempo, o Telegram chegou a ser bloqueado no país em março de 2022, por determinação de Moraes, após reiterados descumprimentos de decisões da Suprema Corte, assim como por não apresentar nenhum representante legal no Brasil. A decisão foi revogada e o aplicativo indicou o representante e firmou um acordo de cooperação com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que foi válido até 31 de dezembro e buscou garantir agilidade no combate à desinformação durante o período eleitoral.
O aplicativo mensageiro também é polêmico na Alemanha, onde é analisado o banimento definitivo da plataforma depois de seguidos descumprimento das decisões das cortes alemãs, assim como ocorre no Brasil.
O Correio tentou ouvir o advogado Alan Campos Elias Thomaz, representante do Telegram no Brasil, que informou que não comenta “assuntos envolvendo clientes”.
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